A preocupação em relação às novas ferramentas tecnológicas como possível ameaça para substituir profissionais não é algo recente. O investimento nessas ferramentas visa, em grande parte, reduzir o tempo de produção sem comprometer a qualidade, o que infelizmente implica em um risco para a mão de obra. Embora não se busque a completa substituição dos profissionais, a redução da demanda por mais trabalhadores é uma consequência inevitável.
No campo da construção civil, o mesmo já ocorreu anteriormente com o surgimento de softwares com sistemas de modelagem CAD e BIM. No entanto, ao contrário destes que são utilizados como ferramentas para auxiliar na produção projetual, a preocupação agora gira em torno de novas tecnologias que cooperem, ou seja, que executem tarefas equivalentes à mão de obra humana.
O interesse nessas tecnologias tem crescido exponencialmente, com diversos softwares e plugins prometendo facilitar a elaboração de projetos arquitetônicos e urbanísticos. Serviços conhecidos e já adotados por arquitetos e designers, como DALL-E e MIDJOURNEY, utilizam prompts (textos descritivos) para criar imagens a partir de um banco de dados preexistente, funcionando como uma ferramenta auxiliar. As promessas e, consequentemente, os desafios da Inteligência Artificial têm capturado a atenção deste setor nos últimos meses, evidenciando que a revolução já está em curso.
No Brasil, autores como Pedro Fiori Arantes, professor da UNIFESP e arquiteto fundador do grupo USINA, abordam a arquitetura na era digital. Em seu livro “Arquitetura na Era Digital-Financeira”, ele reflete sobre os avanços tecnológicos, destacando como eles tendem a economizar tempo e mão de obra na produção. Ele observa: “O aumento de capital fixo (máquinas e softwares) corresponde, simultaneamente, a uma redução do capital variável (força de trabalho). Economia de tempo significa, do ponto de vista do capital, redução do número de trabalhadores, ao mesmo tempo que ocorrem mudanças nas suas habilidades específicas.”
Pensando inclusive em transformar a abordagem tradicional de projetar que a empresa chinesa XKool criou uma IA capaz de criar projetos completos em questão de minutos. Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, a fundadora e arquiteta Wanyu He utiliza como exemplo um hotel com 500 quartos que foi concebido e concretizado em apenas quatro meses e meio. O software pioneiro, visa fornecer uma plataforma tudo-em-um, utilizando a IA desde a geração de layouts de plano diretor até a transformação de imagens 2D em modelos 3D e a criação de plantas baixas a partir da metragem de ambientes. Essa abordagem demonstra a intenção de revolucionar o processo de design arquitetônico.
He destaca que o principal desafio para os arquitetos em relação à IA é desenvolver um entendimento suficiente da tecnologia para moldar como ela impacta a profissão. Em entrevista para a Dezeen, ela afirma: “Rejeitar a tecnologia não a fará desaparecer. Apenas ao abraçá-la você pode se envolver em controlá-la. Nós, como humanos, precisamos entender qual é a nossa competitividade-chave. A tecnologia nos libertará da repetição e nos permitirá concentrar em coisas com valor agregado para a sociedade.”
Existem mais centenas de opções de IA no mercado que prometem aprimoramentos significativos para a arquitetura em diversos aspectos, sendo importante para os profissionais da área permanecerem atentos às possíveis mudanças no modo de produção e consequentes problemáticas sociais que possam trazer.