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Em Roma, a Cluster Contemporary mescla arte e design

Sob o olhar curatorial de Giacomo Guidi, a galeria Cluster Contemporary foge do óbvio passadista ao revelar os caminhos da arte e do design para o futuro

Por Cinthia Rodrigues
17 abr 2023, 11h00

Aos olhos de quem visita como turista, Roma se apresenta como uma cidade que olha para o seu passado, com seu Centro Histórico declarado Patrimônio Mundial pela Unesco e muita história para contar. Mas a capital da Itália está indo além.

Dentro do último palácio clássico barroco erguido em 1880 por vontade de Salvatore Brancaccio (1842-1924), príncipe napolitano casado com a herdeira americana Mary Elisabeth Field (1846-1907), existe um espaço que se dedica à experimentação da arte contemporânea chamado Contemporary Cluster.

Instalação de Gian Maria Marcaccini, na mostra Medioego
Instalação de Gian Maria Marcaccini, na mostra Medioego. (Giorgio Benni/CASACOR)

Fundada em 2016 por Giacomo Guidi, diretor artístico e curador de arte, e por Giorgia Cerulli, arquiteta e curadora do setor de design, a Cluster ocupa, desde 2021, alguns andares do Palazzo Brancaccio (cerca de 3.500 m2), e se dedica à troca e à pesquisa, prestando atenção aos diferentes aspectos das culturas visuais: fluidez, intersecção de linguagens e cooperação.

Mostra Semina, de Sara Ricciardi
Mostra Semina, de Sara Ricciardi. (Divulgação/CASACOR)

Logo à entrada, para quem chega pela Via Merulana, na vibrante e diversa região de Esquilino – apontado pelo The New York Times como “o bairro” para se visitar na cidade, com a centenária Pasticceria Regoli (1916), o Rocco Ristorante e o Salotto Caronte –, o contraste entre o antigo e moderno se apresenta. Piso de mármore original, paredes descascadas, pé-direito de cinco metros e objetos de design, pinturas e fotografias nas paredes, instalações e esculturas estão distribuídos pelo local.

Esculturas de David Umemoto, na galeria Cluster
Esculturas de David Umemoto, na galeria Cluster. (Giorgio Benni/CASACOR)

O térreo concentra o espaço mais importante da galeria, batizado de Africano, com exposições rotativas e uma preciosa biblioteca de livros e revistas acomodadas em estantes de madeira, com vista para um espetacular jardim preservado – local onde um dia os jesuítas cultivaram vinhas.

Guidi recebe a reportagem para contar a sua visão sobre a importância da arte contemporânea. Ex-integrante da Seleção Italiana de Esgrima e atualmente professor acadêmico, o romano cita os preceitos do teólogo Santo Agostinho (354-430), que pregava que o tempo existe no espírito humano, e é nele que se encontram o passado, o presente e o futuro. “Quando estamos falando do passado no presente, ele vira presente. E quando falamos do futuro hoje, ele será o presente amanhã. Você precisa conhecer o passado para avançar”, diz Guidi, para explicar por que a sua cidade precisa recuperar uma vocação natural no cenário de vanguarda que sempre ocupou.

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Instalação de Gian Maria Marcaccini
Instalação de Gian Maria Marcaccini, na mostra Medioego (Giorgio Benni/CASACOR)
Giacomo Guidi diretor artistico da Cluster
Giacomo Guidi diretor artistico da Cluster (Cloro/CASACOR)

Guidi é um apaixonado pelo ato de observar tendências e acredita que a arte caminha para movimentos fluidos. “Adoro mudar quando percebo que todo mundo entendeu tudo”, diz, curiosamente, o virginiano com ascendente em Virgem e que achou o espaço no Palazzo Brancaccio para alugar na internet. Em breve, em parceria com uma marca alemã, vai criar um evento para celebrar a cultura clubber.

Até 22 de abril, a Contemporary Cluster exibe o trabalho do artista polonês Tycjan Knut – telas com ilusão de ótica para provocar o efeito de minimalismo profundo. Em maio, inauguram uma mostra que vai provocar um diálogo entre artistas italianos históricos e jovens, a exemplo de Andrea Polichetti e Giulia Manfredi. Em 2024, a galeria apresenta o trabalho do mineiro Francisco Nuk, que trabalha com madeira em um interessante cruzamento entre mobiliário de madeira, design e arte. O brasileiro foi descoberto pelo curador independente milanês Domenico de Chirico, que trabalha em parceria com Guidi.

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da Cluster Contemporary
Biblioteca da galeria Cluster Contemporary (Divulgação/CASACOR)

Residência subterrânea

 

Além das mostras, a Cluster abriga artistas em residência no subsolo do Palazzo Brancaccio, o Cave di Contemporary. Trata-se de um imenso espaço aberto que fica abaixo salas de exposição do Africano; coberto por uma abóbada de berço, comum na arquitetura romana, um ambiente rústico, monumental, escondido e escuro. Dentro dessa “ocupação”, trabalham cinco artistas escolhidos pela direção da galeria em diferentes manifestações de criatividade e lado a lado, promovendo o intercâmbio de ideias. No sexto andar, o Apartamento by Contemporary Cluster é um lugar de exposição que explora a área doméstica de viver, com a união de designs históricos e marcas contemporâneas. Cada quarto está pronto para ser habitado pelo visitante. Cada peça, desde a obra de arte, o tapete, a lâmpada e o mobiliário, é produzida por marcas que fazem parte do elenco da galeria.

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(Divulgação/CASACOR)

Cenário de filmes e locação para eventos

 

Além de abrigar a Contemporary Cluster, o Palazzo Brancaccio, projeto dos arquitetos italianos Gaetano Koch e Luca Carmini, é o cenário natural para locações de filmes, desfile de moda e casamentos. “A Princesa e o Plebeu” de William Wyler, de 1953, com Audrey Hepburn e Gregory Peck, teve cenas gravadas ali; e também “A Grande Beleza” de Paolo Sorrentino, de 2013. A Gucci também escolheu o local para apresentar um desfile de moda e para quem deseja casar-se em grande estilo, o local pode ser alugado. Com essa mescla, a galeria não poderia estar melhor situada em Roma, cidade de contraposições, descobertas e que provoca imenso fascínio há séculos.

Serviço

Contemporary Cluster

Via Merulana 248, Roma

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Terças a sextas, 10h-19h

Sábados, 11h-20h

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