Todo viajante logo descobre que cada cidade tem seu próprio aroma, seu ritmo e energia particulares. Mas para o renomado arquiteto e designer Sig Bergamin, do elenco CASACOR São Paulo 2023, uma cidade também se expressa como uma variedade de cores, padrões e texturas. Por exemplo, Paris para ele é uma combinação de veludo berinjela e laca chocolate escuro, espelhos brilhantes, couro amanteigado e massas de rosas carmesim e bordô – um contraste marcante com os tons suculentos e superfícies luminosas de sua São Paulo natal. “Quando estou em Paris, me sinto completamente diferente de quando estou em casa”, diz ele. “Eu nem gosto das mesmas cores.”
Não é de admirar, então, que ele tenha se aventurado além dos seus próprios limites quando decidiu decorar seu pied-à-terre perto da Place Vendôme. “Mergulhei em um mundo de tons mais escuros sem restrições”, diz ele. “No Brasil, jamais faria roxo escuro e marrom. Mas Paris é uma cidade sofisticada. É elegante, romântico e dramático.”
A paleta também foi impulsionada por considerações práticas: Bergamin e seu parceiro, o arquiteto Murilo Lomas, visitam Paris apenas durante as estações frias e de alta cultura – outono, inverno, primavera –, então o apartamento precisava ser aconchegante e polido. Além disso, com pé-direito de quase 4 metros de altura, a sala de estar podia lidar com cores ricas e escuras sem parecer uma caverna.
Enquanto as cores sombrias foram um ponto de partida para o designer, a exuberante mistura de móveis e tecidos – marca registrada de Bergamin – ficou responsável por trazer uma justaposição inusitada de padrões e estilos. “Sempre fui fascinado por assumir riscos”, diz ele. “Não me preocupo com certo ou errado.”
Dessa forma, no apartamento, veludo de seda e tapeçaria de lã se misturam com cromo, couro e resina. Uma cadeira marroquina se aproxima de uma mesa formal de madeira embutida da década de 1940. As peles de zebra dividem o espaço com cadeiras de brocado estilo Louis XV e um armário vitoriano primoroso. Em todos os cômodos, as paredes vibram com a pop-art dos anos 1960 e 1970 e provocativas fotografias contemporâneas. “Toda a minha arte é sobre cores”, diz Bergamin. “É como o Carnaval.”
Somando-se à atmosfera de casa lúdica estão os espelhos expansivos, que Bergamin espalha em todo o apartamento. “Gosto de espelhos, não porque quero me olhar o tempo todo”, diz ele rindo, “mas porque eles criam um espaço duplo”. Eles fazem a diferença na galeria, uma sala pequena e baixa que serve a múltiplos propósitos.
Funcionando primeiro como um hall de entrada para os hóspedes que chegam, a galeria também atua como uma passagem entre as salas públicas do apartamento e seus espaços privados – sendo assim também um tipo de ponte entre os séculos 18 e 19, pois a casa de Bergamin é na verdade dois apartamentos interligados com cem anos de diferença.
Apesar de parecer festivo, o apartamento para Bergamin também serve como um oásis de calma. A ala do século 19 – que inclui quartos, lavabo e banheiro principal – tem vista para uma passagem de pedestres ladeada por cafés e iluminada por postes de luz históricos. Mas, embora seu endereço esteja a poucos passos da movimentada Place Vendôme, o apartamento, de acordo com Bergamin, é “quieto, quieto, quieto”.
Fonte: Elle Decor