“L’enfant terrible” (criança terrível) da alta-costura francesa, o grande designer Paco Rabanne morreu ontem (3), deixando para trás de um imensurável legado para o universo da moda. Seu destemor em experimentar materiais e aplicações não convencionais, que lhe renderam o infame apelido, contribuíram de forma permanente para a cultura e os valores dos anos 1960, mesma década em que lançou sua própria empresa homônima.
Originalmente da Espanha, Francisco de Rabanne da Cuervo (abreviado como “Paco”) fugiu para Paris com sua mãe durante a Guerra Civil Espanhola. Foi lá onde estudou arquitetura e se apaixonou pelo universo da moda, em especial quando começou a criar joias para algumas das casas mais conhecidas da moda, incluindo Givenchy, Dior e Balenciaga.
O designer de “impossíveis”
Inovador, Paco desafiou o que se entendia por design à sua época ao inserir dentro do universo têxtil conceitos como o de impressão 3D e, mais recentemente, o de NFTs. Vestidos de papel e acessórios de plástico, por exemplo, constituem a primeira onda de sua extravagante carreira como designer, iniciada em 1966, o que posteriormente o fez se autodeclarar como “artesão” ao invés de designer.
A geometria também era frequente em suas criações. Grandes e atraentes, foram as formas quadradas, circulares e retangulares que redefiniram o sistema da moda. Foi a partir delas que Paco criou os “twelve unwearable dresses” (doze vestidos inúteis), que se tornaram um verdadeiro símbolo da modernidade. Parte de sua primeira coleção, os minivestidos foram feitos de placas de acetato de celulose transparente: um plástico rígido, leve e até então alheio à moda. A peça ganhou forma através das argolas de metal, que uniam cada um dos discos de plástico, e que rompiam com a ilusão de tecido contínuo.
Mais para frente, ele daria vazão à sua tendência artesanal ao costurar, apenas com suas próprias mãos e alguns alicates, todos os vestidos da sua coleção “Rodeo”. Feitos de couro e unidos por argolas de metal, o designer recorreu à técnica que àquela altura já fazia parte do DNA de sua marca, apenas acrescentando materiais como penas ou alumínio.
A revolução de Rabanne na contemporaneidade
Em memória aos ‘doze vestidos inúteis’, a Paco Rabanne entrou no universo de NFTs levando o conceito de “inutilizável” ainda mais ao pé da letra. Unindo o passado, presente e futuro, a marca criou 12 vestidos NFT baseados em alguns de seus designs mais conceituados das últimas sete décadas.
Os proprietários dos NFTs receberão um convite exclusivo para visitar o ateliê da grife em Paris, onde Julien Dossena, diretor criativo da marca, e os artesãos franceses que desenvolveram as peças originais irão colaborar na criação de uma peça física sob medida do arquivo NFT. Os proprietários também receberão um convite VIP para o próximo desfile da Paco Rabanne como convidado especial da maison.
A entrada da marca nos NFTs dá continuidade ao legado de inovação e pioneirismo de Paco Rabanne para o design mundial. Experimentando com materiais e colocando à prova as definições de design, Paco provou, repetidamente, que estamos longe de explorar todos os limites deste universo sempre em expansão que é o design.
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