Após 20 dias, as competições estão chegando ao fim. Em uma edição marcada pelo adiamento dos jogos, pandemia e estádios sem público, a organização conseguiu adotar medidas sustentáveis que, além de minimizar os impactos ambientais do evento, ainda ficarão de herança para a capital japonesa. Conheça 7 medidas adotadas por Tóquio nestas Olimpíadas.
1. Reaproveitamento de arenas, construção sustentável e legado para a cidade
Dos 43 espaços utilizados pelos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos, 25 já existiam e 10 são temporários – todos foram feitos tentando ao máximo economizar energia e se adequar aos padrões de acessibilidade. O Estádio Nacional do Japão, por exemplo, foi reconstruído com projetos assinados pelo escritório Zaha Hadid e por Kengo Kuma e ficou pronto em 2019. Nele, foram instalados grandes beirais e terraços para controlar o fluxo do vento e ajudar na ventilação. O palco das cerimônias de abertura e encerramento, além das competições de atletismo, tem como um dos principais componentes de sua estrutura a madeira – o material certificado veio de todas as 47 províncias do Japão – e também possui painéis solares e cisterna para coleta de água da chuva, que é utilizada para irrigar a grama e plantas da arena.
A madeira também é o elemento principal da Village Plaza, o espaço comunitário localizado na Vila Olímpica assinado pelo escritório Nikken Sekkei. São 40 mil peças de madeira que compõem uma estrutura que abriga café, bancos, espaços médicos, espaços comerciais e o centro de mídia.
Construções novas, como a Ariake Arena (que abriga os jogos de vôlei) e o Kasai Canoe Slalom Centre (palco da canoagem) serão utilizados como centros esportivos após as Olimpíadas, inclusive para sediar competições internacionais.
Centros de eventos como o Makuhari Messe Hall (em Chiba) e o Saitama Super Arena (em Saitama), que já existiam, foram reaproveitados para sediar as competições de taekwondo, esgrima, luta e basquete. Construção icônica de Tóquio, o Budokan tem assinatura de Mamoru Yamada e foi feito para as Olimpíadas de 1964 – em 2021, repete o feito e abriga as competições de judô.
Uma curiosidade: o Odaiba Marine Park, instalação montada para as provas de maratona aquática e triatlo, fica em Odaiba, uma ilha artificial construída a partir de um projeto arquitetônico da década de 1980 e erguida sobre um antigo aterro de lixo.
Hoje, além de ser uma das partes mais modernas de Tóquio, é um popular polo turístico, já que abriga o prédio da Fuji TV (assinado por Kenzo Tange, ganhador do Pritzker), o Mori Building Digital Art Museum (que abriga as exposições do coletivo teamLab e que foi o museu mais visitado no mundo em 2019, segundo o Guinness Book), a estátua em tamanho real do Gundam e a melhor vista para a Rainbow Bridge e os arcos olímpicos da Baía de Tóquio.
2. Design ecológico nos símbolos olímpicos
Tema de polêmicas e memes na internet, as camas de papelão foram uma das sensações dos jogos. Mas o design sustentável também ganhou protagonismo nos principais símbolos olímpicos: a pira olímpica, design do estúdio Nendo, utiliza hidrogênio na chama, que não emite dióxido de carbono quando queimado.
O mesmo combustível foi utilizado na tocha em algumas partes do revezamento – a peça com design assinado por Tokujin Yoshioka foi inspirada nas flores de cerejeira e utiliza resíduos de construção de unidades habitacionais pré-fabricadas das áreas atingidas pelo terremoto de Tohoku em 2011.
As medalhas também foram feitas com material reciclado: cerca de 78 toneladas de eletrônicos e mais de 6 milhões de celulares foram doados pela população japonesa para a fabricação de 5 mil medalhas. A fita que acompanha a medalha traz motivos de design tradicional japonês encontrados em ichimatsu moyo (padrões xadrez) e kasane no irome (técnicas tradicionais de camadas de quimono) em uma apresentação moderna.
Linhas convexas de silicone são aplicadas na superfície da fita para que qualquer pessoa possa reconhecer o tipo de medalha (ouro, prata ou bronze) simplesmente tocando-a. Foram utilizadas fibras de poliéster recicladas quimicamente que produzem menos CO2 durante o processo de fabricação.
Já o pódio em que os atletas recebem as medalhas é feito de plástico reciclável: a população japonesa participou de um projeto de coleta de plástico usado e detritos marinhos de plástico e o material recolhido compõe a peça desenhada por TOKOLO Asao, responsável também pelos emblemas da Olimpíada. Uma impressora 3D foi utilizada no processo de elaboração do pódio sob a direção do professor Hiroya Tanaka da Universidade de Keio.
Os símbolos Olímpicos e Paraolímpicos foram feitos com resíduos de alumínio das unidades habitacionais temporárias construídas para famílias afetadas pelo Grande Terremoto do Leste do Japão em 2011.
3. Incentivo à reconstrução da área de Tohoku
Tóquio foi escolhida como cidade sede das Olimpíadas em 2013. Na época, o Japão estava em pleno trabalho de recuperação da área leste do país, atingida um terremoto em 2011 (chamado de o grande terremoto de Tohoku) que também culminou no acidente nuclear da região de Fukushima. Logo, utilizar o evento esportivo para ajudar na reconstrução da região foi um caminho natural.
Além dos metais da tocha, a energia utilizada para a pira, a tocha e para os transportes foi gerada em usinas da região afetada pelo terremoto. Um detalhe sutil, mas muito significativo é o buquê que os medalhistas recebem: as flores foram cultivadas em áreas atingidas pelo terremoto e o conjunto traz lisiantos de Fukushima, girassóis de Miyagi, gencianas de Iwate e folhas de aspidistras de Tóquio. As plantas ficam em um compartilhamento de água em gel escondido sob as folhas e ganham a companhia de uma pelúcia do Miraitowa, o mascote dos jogos. O bichinho muda de cor de acordo com a medalha que o atleta ganha.
Outro souvenir que os participantes recebem pela participação é um ornamento de porcelana adornada com símbolos tradicionais japoneses, como flores de cerejeira e o Monte Fuji.
Três monumentos expostos perto do Estádio Olímpico representam o projeto Tokyo 2020 Recovery Monuments: com mais de dois metros de altura, os três foram feitos em workshops realizados nas províncias de Iwate, Miyagi e Fukushima, onde alunos criaram em conjunto os designs e as mensagens colocadas nas obras. Os atletas que participam dos Jogos podem ver os agradecimentos pela ajuda recebida de todo o mundo e também podem enviar suas próprias mensagens aos moradores locais, anexando-as aos monumentos.
4. Energia zero e transporte elétrico
Além da pira, o hidrogênio também é fonte de energia em algumas instalações da Vila Olímpica. Veículos elétricos estão disponíveis para o transporte dos atletas e jornalistas, com o intuito de reduzir a pegada de carbono e evitar a dispersão de dióxido de carbono na atmosfera.
A eletricidade utilizada é gerada quase completamente por fontes renováveis – placas solares estão instaladas em 17 arenas e o Estádio de Tóquio também utiliza energia eólica – e energia gerada em usinas da região de Tohoku, como uma forma de promover a reconstrução da região.
5. Preservação ambiental e pegada de carbono
A estimativa original dos organizadores era de que os jogos gerassem 2,73 milhões de toneladas de carbono. Com a ausência de público devido a pandemia, o número deve cair em 12%. Mais de 200 empresas japonesas doaram créditos para criar um evento carbono zero. Cálculos iniciais estão disponíveis no relatório de sustentabilidade pré-jogos e a organização pretende divulgar relatórios de emissão de carbono após o fim dos jogos.
Segundo a organização, cerca de 37 mil árvores foram preservadas durante a construção das arenas e mais de 60 mil novas espécies também foram plantadas. Cartazes e outros materiais de escritório utilizam papel certificado.
Uma curiosidade: durante um evento teste de surf realizado em 2019 na praia de Kujukuri, foi encontrado um local de desova de tartarugas marinhas. Para proteger os animais, autoridades locais, o comitê olímpico e uma ONG especializada trabalharam em conjunto para isolar a área e sinalizar o local para visitantes e atletas.
6. Zero lixo
A reciclagem no Japão é amplamente difundida e não poderia ser diferente durante as Olimpíadas. Ações baseadas no princípio dos 3Rs (reduzir, reutilizar e reciclar) promovem a diminuição do uso de plástico e a adoção de materiais recicláveis e reutilizáveis durante todo o período dos jogos.
Para ajudar na separação de resíduos e driblar a barreira do idioma, pictogramas foram criados para indicar onde descartar corretamente cada material. Os primeiros pictogramas que representam as modalidades olímpicas surgiram na edição de 1964 em Tóquio e foram feitos justamente para facilitar a comunicação com estrangeiros. Na edição de 2020, inclusive, a tradição continua e é a primeira vez que eles aparecem animados.
7. Pride House Tokyo
Inaugurada em 2020, a Pride House Tokyo é um centro de informações pop-up e de divulgações de informações relacionadas a pessoas LGBT e outras minorias sexuais localizado em Shinjuku, Tóquio. Além de trabalhar para garantir que os atletas LGBT, seus amigos e familiares, espectadores e participantes locais sejam livres para serem eles mesmos enquanto desfrutam de uma Olimpíada com tema de diversidade, também visa criar um espaço seguro permanente para a próxima geração de jovens.
A “Pride House” tem o mesmo princípio de outras casas instituídas temporariamente em outras Olimpíadas, mas o intuito da versão japonesa é se tornar um espaço permanente de troca de informações sobre diversidade sexual e oferecer um refúgio a vítimas de assédio ou discriminação. Vale lembrar que o Japão é o único país do G7 que não reconhece uniões de casais do mesmo sexo.